Setembro está chegando ao fim, mas a discussão sobre saúde mental não pode ser deixada de lado. Muitas pessoas depressivas não procuram ajuda profissional por medo do preconceito ou por não terem energia suficiente para dar esse passo. É por isso que cabe a nós, que estamos próximos, auxiliar como pudermos.
Pensando nisso a Uzii, em parceria com a psicóloga e psicodramatista Cristina de Cássia Gomes, trouxe um conteúdo conscientizador onde explicamos um pouco sobre as causas da depressão, além do papel dos profissionais de saúde no tratamento.
“Você sabe qual a principal causa do suicídio?
Se você está pensando em depressão, tristeza, ansiedade, doenças mentais, relacionamentos abusivos, problemas financeiros, dificuldades sociais, falta de informação e tantos outros, você está certo.
Eu acredito, porém, que a principal causa do suicídio ainda é o PRECONCEITO.
O suicídio é romantizado como um ato de coragem, mas o suicida não quer se livrar da vida, ele quer se livrar do insuportável peso da dor e do sofrimento. A pessoa quer ser acolhida e confortada em um mundo que nem sempre entende ou aceita que existem recursos para minimizar essa dor.
Talvez essa pessoa tenha morrido porque ninguém tenha pegou em sua mão e explicou que psiquiatras tratam distúrbios químicos cerebrais e psicólogos são profissionais que cuidam de acolher a dor da alma, te apresentando a possibilidade de uma vida mais leve e feliz.
Pedir para alguém se tratar ou falar para alguém fazer psicoterapia em nossa sociedade é visto como xingamento. Entendam, porém, que não é uma agressão, é um ato de amor. Se eu quero e sugiro que você se cuide é porque me importo e te quero bem, vivo e feliz.
É assim que surgiu o Setembro Amarelo, uma campanha criada para valorizar a vida, que veio para informar. O objetivo é prevenir o suicídio, conscientizando a população em relação à depressão e treinando as pessoas para reconhecer os sinais quando alguém precisa de ajuda, mobilizando-as para agir.
No Brasil, em média 27 pessoas se suicidam diariamente, somando 10 mil vidas ao ano. Muita vida e potencial desperdiçado, muita dor para amigos e familiares, sem falar na dor de quem escolheu esse caminho. No mundo, a cada 40 segundos, uma pessoa se suicida. A depressão é a terceira maior causa de afastamento do trabalho.
A maioria das pessoas que se suicidam são pessoas com depressão. Algumas pessoas ignorantemente chamam a depressão de frescura, falta de esforço, preguiça, falta do que fazer ou falta de Deus (olha o preconceito aqui de novo), mas a depressão está bem longe de ser isso.
Atendo pessoas muito práticas e vitoriosas na vida que são deprimidas. Atendo pessoas que trabalham, estudam e são depressivas. Atendo pessoas compassivas, empáticas, caridosas, que contribuem para a sociedade e são depressivas. Fazem tudo isso com muita dificuldade e, em momentos de crise, não dão mais conta.
Depressão nada mais é do que uma doença tão séria quanto qualquer outra, que pode, inclusive, matar. No entanto não lhe é dada o devido valor, respeito e principalmente tratamento, o que contribui para que suas vítimas aumentem e se tornem fatais.
Os sintomas da depressão incluem:
– Desânimo, tudo parece difícil e sem graça, atividades divertidas perdem o significado, pode haver cansaço frequente;
– Irritação, explode por nada;
– Desistência de compromissos, projetos e sonhos;
– Retraimento, deixa de sair de casa;
– Hábitos de higiene são comprometidos;
– Afastamento de grupos;
– Alteração dos hábitos alimentares (come compulsivamente ou deixa de comer).
A depressão tem diferentes nuances. Existe a leve, onde a pessoa dá conta da vida com esforço e tudo é muito sem cor e sem graça. A moderada, onde a pessoa já está parando de dar conta de suas rotinas. E a severa que é quando a pessoa chega a tentar suicídio porque tudo é muito difícil, o sofrimento é insuportável e a esperança deixa de existir.
A depressão pode ser desencadeada por fatores ambientais quando a pessoa sofre com relações abusivas (familiares, amorosas ou profissionais) ou reside em áreas de risco (roubos, tiroteios, invasões, desastres naturais, fome).
Existem também os fatores físicos e químicos. Nosso cérebro possui vários neurotransmissores que ajudam a regular nosso humor, aprendizagem, memória, etc. Resumindo, mandam no funcionamento do corpo como um todo. Algumas pessoas tem falha na produção dessas substâncias, neste caso é primordial a vista ao psiquiatra. Se você pensou “nossa, mas eu não estou louco” é novamente seu preconceito falando.
O psiquiatra foi estigmatizado como médico de louco, mas ele é o profissional que estuda o funcionamento cerebral, ou seja, é ele quem melhor entende os fatores químicos. Se você tem um cérebro, você pode ir ao psiquiatra. A nutricionista também pode ser uma aliada porque existem alimentos funcionais que possuem substâncias que podem nos ajudar a turbinar o cérebro e o humor.
E por último, mas não menos importante, vem os fatores comportamentais. Muitas pessoas acabam criando hábitos e vícios em sua vida ou possuem fatores desencadeantes de depressão e não percebem. É aí que entra o trabalho do profissional de psicologia: para auxiliar na identificação destes fatores e apresentar novas possibilidades.
Psicólogo também cuida de como lida-se com os traumas, magoas, emoções, crenças limitantes, registros e impactos das relações na vida, ajuda a lidar com ansiedade, fobias e a reconhecer e modificar padrões. Psicólogo faz tudo isso e também sofre com o estigma de que é para doidos ou para quem tem problemas. Todos temos emoções, sentimentos e problemas; ou seja, tratamento psicológico é para todos.
O deprimido não possui energia disponível. Precisa ser auxiliado para procurar tratamento e no início, muitas vezes, precisa ser literalmente levado até o psiquiatra e o psicólogo para conseguir aderir, p acaba desistindo porque até se tratar é muito difícil para ele.
É muito importante envolver os entes queridos como parceiros em seu processo de cura e, em caso de tentativa de suicídio, é importante haver pontos de apoio próximos à pessoa para suporte emergente e imediato.
Depressão é uma doença, é tratável e tem cura.
Preconceito também tem cura. É informação e amor.”
– Cristina de Cássia Gomes, Psicóloga.
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